A Prefeitura de Contagem realizou, na manhã do último sábado (26/11), uma roda de conversa sobre o enfrentamento ao racismo nos esportes. A roda de conversa aconteceu de forma virtual e contou com a presença do ex-árbitro e militante antirracista, Márcio Chagas da Silva e do ex-goleiro, também militante e palestrante, Mário Aranha, que jogou, entre outros clubes, no Atlético Mineiro e Ponte Preta. O evento foi promovido pelas secretarias municipais de Direitos Humanos e Cidadania e a de Esporte, Lazer e Juventude e compõe a programação do Novembro Negro de 2022.
O superintendente de Políticas para Promoção da Igualdade Racial, João Pio, destacou que o evento dá início à Campanha de Enfrentamento ao Racismo nos Esportes, que objetiva promover enfrentamento ao racismo nas diversas modalidades esportivas compondo o Programa Contagem na Década Afrodescendente: Reconhecimento, Desenvolvimento e Justiça.
Segundo ele, a campanha também se alinha às ações do Código de Ética da Fifa, atualizado em 2020, pautando o enfrentamento ao racismo, a discriminação, a xenofobia e a LGBTfobia, e as orientações de outras confederações e federações das diversas modalidades esportivas no Brasil. “A campanha de enfrentamento ao racismo nos esportes, integra o calendário de atividades do Novembro Negro de 2022. A perspectiva para 2023 é desenvolver uma série de ações junto às diversas modalidades esportivas da cidade. Trata-se de uma articulação intersetorial e transversal envolvendo o poder público e as organizações esportivas com atuação em Contagem”.
Ex-jogador de futsal e árbitro de futebol, Márcio Chagas, contou que sofreu com a discriminação durante a carreira. Em palestras pelo Brasil, ele compartilha suas experiências, sendo um dos principais nomes no combate ao racismo no país. “São batalhas constantes que vivemos no esporte ao se tratar de racismo. Ele se desenha de diversas formas, quando escutamos palavras ofensivas vindas das arquibancadas e também por todo sistema colonizador embranquecido que estrutura o futebol. É importante abordar sobre esse tema, na sua mais interna estrutura, que precisa ser modificada, com pessoas negras atuando, buscando alternativas de modificar esse contexto, tanto nas categorias de base, dirigentes, comunidades e jogadores”.
Durante a live, Aranha comentou o caso que sofreu onde foi vítima de ofensas racistas em 2014, quando defendia o Santos, contra o Grêmio, em Porto Alegre. Na partida, vários torcedores do time gaúcho fizeram gestos e gritos racistas, configurados, posteriormente, como injúria racial, o que culminou, inclusive, com a exclusão do clube da Copa do Brasil daquele ano.
“Esse episódio foi o mais conhecido da minha carreira, mas já passei por diversas formas de injúria racial. Sempre tive que enfrentar esse problema. O racismo entrou na minha vida antes do futebol, e continuou durante toda minha trajetória profissional e depois também, porque ele está enraizado na sociedade. Desde os meus 14 anos, venho adquirindo conhecimento por meio de leitura, de música e durante esse período o futebol entrou na minha vida. Como goleiro eu continuava exercendo minha cidadania e militância. Acredito que a mudança vem pelo estudo, pelo esporte como uma prática agregadora, promovendo ações de consciência”, destacou Chagas.
Para a subsecretária de Direitos Humanos e Cidadania, Lorena Lemos, a temática do racismo no esporte é essencial para a promoção e diálogo dos direitos humanos na cidade. “Um debate tão importante como esse de hoje, com figuras relevantes no âmbito nacional e internacional na luta pela promoção da igualdade racial, demonstra o tamanho da nossa cidade e os desafios pela frente. Os casos de injúria racial no esporte, que acontecem no Brasil e no mundo, nos chamam atenção para a necessidade de dialogarmos sobre o assunto, um debate fundamental quando pensamos na perspectiva que o esporte tem na vida das pessoas enquanto também uma política pública municipal”.
O secretário de Esporte, Lazer e Juventude, Ivayr Soalheiro, também esteve presente e destacou que é “necessário criar condições de combate ao racismo, por meio do conhecimento e com ações que possam contribuir e educar a sociedade”.
Também participaram da conversa o subsecretário de Esporte e Lazer, Rafael de Rezende; o comandante da Guarda Civil de Contagem, Wedisson Luiz da Silva; os conselheiros municipais de Igualdade Racial; os representantes das políticas setoriais de assistência social, educação, direitos humanos e cultura e do time do Coimbra.